Princípios cristãos na política

Provavelmente, poucos assuntos produzem mais rejeição na maioria dos evangélicos do que “política”. As razões para essa atitude são muitas, mas posso citar as seguintes:

- Porque existe um temor de que a Igreja, que deveria ser um aprisco, se torne um curral eleitoral de seu pastor.

- Por causa de uma pseudo-espiritualidade que atribui ao diabo tudo o que se relaciona à política.

- Por causa de uma compreensão teológica. A Palavra de Deus, de fato, diz que o mundo jaz no maligno e está entesourado para o fogo, para o dia da destruição.

Nenhuma dessas razões é suficientemente forte para justificar nossa omissão. Se um grande problema no meio evangélico são aqueles que se omitem no processo político, outro ainda maior são aqueles ingênuos e idealistas que pensam que a política tem o poder de resolver todos os problemas da sociedade.

Precisamos equilibrar nossa posição com dois conceitos básicos da palavra de Deus. Em primeiro lugar, a visão bíblica do mundo não é otimista. Na verdade, o mundo é um lugar de trevas e, na sua essência, se opõe a Deus. Todavia, ainda assim a Bíblia nos estimula a lutar contra o mal e desfazer as obras do diabo.

Em segundo lugar, não existe nenhuma promessa bíblica que anuncia algum tipo de reino de Deus promovido pela mão do homem. Não existe nenhuma ideologia político-partidária que traga a realização humana e o bem estar geral – isso somente acontecerá na vinda do reino de Deus com a volta de Jesus para reinar. Isso, porém, não nos impede de buscarmos uma vida melhor em nosso tempo. Devemos fazer todo o possível para que a sociedade seja um lugar bom e justo.

Creio que a política é um instrumento para esse fim. Por isso, não se omita. Você não precisa se posicionar por um partido, mas deve se posicionar pelos princípios da Palavra de Deus. Como cristãos, precisamos observar se um candidato defende idéias que se harmonizam com os princípios da Palavra de Deus. Mas, quais são esses princípios? A seguir, mencionarei pelo menos 10 princípios que você deveria observar ao definir seu voto.

1. Somos pela vida e pela família

Ser pela vida significa que somos contra o aborto. Ser pela família significa defender o casamento monogâmico e heterossexual como está na Bíblia. Ser pela família significa combater a prostituição de todas as formas.

Um cristão não pode votar em um candidato que não tenha propostas e projetos que visem a defesa da família. Hoje, os meios de comunicação de massa estão minando os valores da família. Precisamos eleger pessoas que sejam uma voz que denuncia a pornografia e a licenciosidade pública e na televisão neste país.

2. Somos contra a injustiça e a impunidade

Isso significa que só podemos votar num candidato ficha-limpa que defenda a justiça e se posicione publicamente contra a fraude, a corrupção e a impunidade. A palavra de Deus declara que as cadeias da injustiça devem ser quebradas: “Ai dos que por suborno justificam o perverso e ao justo negam justiça!” (Is 5.22,23).

Precisamos eleger homens que lutem contra a fraude, a mentira e a corrupção dentro das instituições do país. “Também as armas do fraudulento são más; ele maquina intrigas para arruinar os desvalidos, com palavras falsas, ainda quando a causa do pobre é justa” (Is 32.7). É a impunidade que permite que os corruptos e os corruptores continuem agindo livremente. Os crimes do colarinho branco precisam ser punidos.

3. Somos pela liberdade de expressão e de culto

Na parábola do joio, o Senhor disse que, no mundo, haverá trigo e joio. Hoje, devemos tirar o joio da Igreja, mas não do mundo. Retirar o joio do mundo não é o mesmo que tirá-lo da igreja. Na igreja não podemos tolerar o joio, mas o que está no mundo, somente os anjos de Deus separarão no último dia.

Hoje, cada homem tem o direito de cultuar o que quiser e esse direito deve ser preservado. Também precisamos defender a liberdade de expressão. Isso, porém não significa que precisamos tolerar a pornografia e a licenciosidade na televisão pública, nas bancas, outdoors e outras mídias. Todo cristão precisa lutar constantemente contra tudo isso.

4. Defendemos a propriedade privada

A Palavra de Deus nos ensina o respeito pela propriedade privada. Hoje em dia, o campo é o lugar onde isso é mais questionado. Defendemos a propriedade privada, no entanto, somos pela justiça no campo. Um bom candidato deve se engajar a favor da partilha das áreas ociosas do país. É preciso que haja meios e instrumentos de dar ao trabalhador rural condições de sobrevivência digna. “Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra!” (Is 5.8).

5. Somos pela distribuição justa de riquezas

O plano de Deus é que a riqueza seja distribuída para promover a dignidade humana. Isso significa dar oportunidades iguais a todos os cidadãos. “Não oprimindo a ninguém, tornando ao devedor a coisa penhorada, não roubando, dando o seu pão ao faminto e cobrindo ao nu com vestes; não dando o seu dinheiro à usura, não recebendo juros, desviando a sua mão da injustiça e fazendo verdadeiro juízo entre homem e homem” (Ez 18.7,8). Não cremos que se deve tirar de uns para dar a outros, mas cremos que deve haver políticas públicas que permitam ao pobre subir na pirâmide social.

6. Somos contra a violência e a arbitrariedade

A vontade de Deus é que o homem violento seja tirado do convívio social. “Quando o homem violento tiver fim, a destruição for desfeita e o opressor deixar a terra, então, um trono se firmará em benignidade, e sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará com fidelidade um que julgue, busque o juízo e não tarde em fazer justiça.” (Is 16.4,5).

Também a violação do estado de direito é visto por Deus como um mal a ter sua erradicação celebrada com alegria: “Então, proferirás este motejo contra o rei da Babilônia e dirás: Como cessou o opressor! Como acabou a tirania! Quebrou o SENHOR a vara dos perversos e o cetro dos dominadores, que feriam os povos com furor, com golpes incessantes, e com ira dominavam as nações, com perseguição irreprimível. Já agora descansa e está sossegada toda a terra. Todos exultam de júbilo.” (Is 14.4-7).

7. Somos contra a exploração do trabalhador

Para nós, distribuição de riqueza significa salários justos. “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.” (Tg 5.4).

8. Somos contra o abandono e a mortalidade infantil

A vontade de Deus é que não haja crianças que vivam poucos dias. “Não haverá criança para viver poucos dias” (Is 65.20). Precisamos ser sérios e lutar para acabar com a mortalidade infantil. Para isso, precisamos de candidatos que lutem pelo saneamento básico e pela saúde pública.

9. Somos pela preservação ecológica

A destruição do meio ambiente é promovida pelo egoísmo humano e pela megalomania dos governantes. “Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem.” (Os 4.3).

Em Apocalipse 11, lemos que, quando o Senhor voltar, Ele destruirá aqueles que destroem a terra. “Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, tanto aos pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra” (Ap 11.18).

10. Somos contra golpismos e governos ilegítimos

Como cristãos, precisamos nos comprometer para que nunca mais haja neste país qualquer forma de ditadura. “Eles estabeleceram reis, mas não de minha parte; e constituíram príncipes, mas eu não o soube...” (Os 8.4).

Há governos que não são ministros de Deus para o bem. Por isso, Deus se levanta contra aqueles que apoiam esses governos golpistas e perversos. “O que disser ao perverso: Tu és justo; pelo povo será maldito e detestado pelas nações.” (Pv 24.24).